Always remember: Elvis is dead, gravity kills and happiness sucks!

segunda-feira, junho 27, 2005

O vermelho e o azul

"Por que, com você, tudo tem que ser sempre relacionado a música?" Essa pergunta ficou ecoando na minha cabeça durante horas, dias. E mesmo hoje, semanas depois, ainda parece que ouço exatamente cada sílaba dela. Eu sei a resposta, mas fiquei com preguiça de responder na hora. Eu sempre soube a resposta. Mesmo antes de ser questionado dessa forma. Mas no fundo é simples: eu entendo a música muito melhor do que entendo as pessoas.

Tecnicamente música nada mais é do que matemática. Qualquer garoto que seja realmente bom com números pode se dar bem em música. Harmonia nada mais é do que um aglomerado confuso de compassos, quartas, oitavas, tons, subtones, sustenidos, bemóis e notas músicais que seguem uma escala numerológica muito bem definida. Mas ainda falta o sentimento.

Nunca fui bom de matémática, e apesar de entender exatamente o que uma harmonia é, não consigo definir como alguém chegou a ela. Por isso compenso no sentimento. Basta-me entender ou especular os motivos que levaram um compositor a escrever aquilo. Um psicólogo da música. E é assim que entendo a música: através do sentimento que originou a harmonia. Mas não entendo as pessoas.

E assim meu gosto vai mudando. O que fazia sentido antes passa a ser um segundo plano. Acho que amadurecer tem a ver com isso. Eu ainda odeio Chico Buarque e todos da MPB. Mas muita coisa que não gostava passa a fazer mais sentido. Eu ainda gosto mais da coletânea vermelha dos Beatles. Acho mais divertido ouvir Love Me Do. Mas agora entendo exatamente a letra de Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band. E isso dói. Machuca saber que o disco azul é mais real.

Mas eu nunca sonho em azul. Quando fecho os olhos, são as histórias de um amor adolescente e vermelho que me fazem acordar sorrindo. E eu nunca sonho com Penny Lane, por mais que acorde querendo assobiar a melodia de Strawberry Fields Forever. Mas eu nunca, nunca sou Billy Shears em meus sonhos.