E sempre tudo é jazz!
Por ser o mais novo de três irmãos, sempre ouvi que o caçula é o rebelde, o diferente, o contestador. Pode ser verdade. No meu caso, por exemplo, isso se aplica muito. Vejam só, eu fui o único a repetir de ano na escola. O único a fugir das ciências biomédicas e encarar as humanas. O único que toca um instrumento. O único que estudou em faculdade particular. E o único que já pisou num tribunal (tá, eu era a vítima, mas estive lá).
Nada de grandes análises psicológicas, por favor. Amo meus irmãos e confesso que sempre sofri mais com a idéia de perder um deles do que com a de enterrar meus pais. Em todas as nossas diferenças vejo como somos completos. Entre o desleixo acidental do Gustavo e método quase sufocante do Rafael, mora a minha desordem caótica. E não precisei esperar que eles saíssem de casa para ver o quanto éramos (e somos) amigos.
Mas nem toda família é assim. Conheço pelo menos uma que não segue a regra. Lá, os valores se invertem e de fato não sei se eles são grandes amigos. Mas são irmãos, e isto basta. Podem até ter suas diferenças, mas é certo que compartilham talento e amor pela música. Coisa de berço, que nasceu com o avô Ellis Marsalis. O gene musical passou ainda pelo filho, o pianista Ellis Jr., e consagrou-se em seus netos Brandford e Wynton.
Brandford é o mais velho, tem 44 anos, e uma rebeldia quase incompreensível. Vi o show dele em 2004 no Tim Festival. É o cara que toca seu sax de camisa aberta. Erra de propósito, simplesmente por achar divertido ter que corrigir uma melodia no meio. Wynton não. É impecável em seus 43 anos. Ama o jazz tradicional e não erra. Nunca! Entre os Marsalis, rebelde é o mais velho.
Domingo eu vou ver o show do Wynton no Ibirapuera. Finalmente vou saber quem é meu Marsalis favorito. Eu até consegui um par ingressos para o sábado à noite. Mas, no Cultura Artística, menino de cabelo roxo não entra. Algo me diz que esse caçula vai se impressionar mais com outro caçula, mesmo que ele seja a exceção, o anti-rebelde. Não tem problema. No fim, tudo se resume a isso. E sempre tudo é jazz!
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