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sábado, junho 18, 2005

O cara mais "cool" do rock

LegsMcNeil garante que Danny Fields era o cara mais "cool" do rock na década de 70. Dá pra concordar com ele, afinal o Sr. Fields foi um tremendo catalisador pra tudo que surgiu de legal na música entre Detroit e Nova York. E aí você pode incluir sem medo New York Dolls, Television, Stooges e uma caralhada de outras bandas.

Veja, não quero tentar aqui me comparar ao Legs. Eu não criei uma revista (ok, aquilo era mais um fanzine) que deu nome a uma das mais ambíguas, explosivas e definitivas tendências culturais dos últimos tempos. E, sinceramente, nem enxergo grandes possibilidades de realizar feito parecido. Mas eu realmente preciso dar meu parecer sobre quem é o cara mais "cool" do rock hoje.

Dave Grohl. Sim senhor, esse é o cara. Ele consegue juntar tudo que um rockstar deve ter: carisma e talento. E essas duas coisas parecem ser abundantes nele. Eu finalmente ouvi o novo álbum do Foo Fighters, "In Your Honor". Com todo o exagero que a empolgação e o devaneio incauto me permitem, ouso dizer que a faixa título (que abre o disco) é a melhor música que ouvi em 2005.

A parte boa começa na letra. É uma declaração absoluta e sincera de amor. O refrão é "In your honor/I would die tonight/For you to feel alive". Tudo isso é acompanhado por uma guitarra densa e nervosa adicionada a uma distorção orgânica e pesada. A bateria é massacrante, e a voz de Grohl atinge nivéis impressionantes de uma rouquidão gutural.

Isso me fez pensar em uma teoria (polêmica, eu sei). Não vamos dar apelido ao que tem nome. A melhor coisa que aconteceu para a música da década de 90, e desta década que vivemos, foi o suicídio de Kurt Cobain. De forma alguma vou enaltecer o fato dele ter aberto um túnel em sua cabeça com uma espingarda Winchester. Mas é certo que - além de todo romantismo que essa tragédia guarda - a morte de Cobain é determinante para o rock do ano 2000.

Sem Cobain, o Nirvana obviamente acabou. Isso desencadeou duas coisas boas: o Nirvana acabou antes que se estragasse e Dave Grohl teve sua imensa verve criativa liberada. Por um lado é até possível pensar que não era preciso que ele se matasse para que a banda acabasse. Assim como ninguém no Ramones precisou dar um tiro nos miolos para que a banda pendurasse as guitarras.

Mas a comparação é ingênua. Ramones nunca teve uma importância comercial nos EUA, ou mesmo no mundo. Era uma banda espetacular sim, mas nunca foi um fenômeno de vendas. Nunca assinou contratos milionários. Já o Nirvana era um sucesso para os bolsos da Geffen. E isso era bem capaz de influenciar os caminhos artísticos de Cobain. Se é que já não estava influenciando.

É só comparar os três discos de estúdio do Nirvana: "Bleach", "Nevermind" e "In Utero" (sim, estou tirando o "Incesticide" da lista já que é um álbum com refugos de estúdio). "Bleach" é pesado. "Nevermind" é pesado. "In Utero" é quase pesado. E num eufemismo debochado é possível dizer que "Utero" é um "registro maduro". Isso já é prova mais que suficiente de que o grupo estava indo por um caminho perigoso.

Com Cobain morto, Grohl perdeu sua maior âncora criativa. Ficou livre pra navegar por onde bem entendesse. Assim, ele conseguiu construir uma carreira tão difusa de seu passado nirvânico que é quase impossível ver uma foto dessas duas épocas e ter a noção exata de que são a mesma pessoa. Grohl soube reconstruir o rock de tal forma que atualmente o Foo Fighters é uma das poucas bandas legítimas que chegam ao mainstream e não são meras prostitutas musicais no topo da "Billboard".

Dá até pra seguir uma linha desvairada de pensamentos e avaliar que a letra de "In Your Honor" não é uma simples declaração de amor. É um compromisso. Ele morreria para fazer uma música tão "cool". Uma música que faz a gente se sentir realmente vivo.

*Nota mental: o que terá sobrado quando as luzes se acenderem?