Always remember: Elvis is dead, gravity kills and happiness sucks!

domingo, janeiro 15, 2006

Carta aberta aos meus irmãos



"O clube dos corações solitários acabou". Os créditos subiram mais lentamente que o normal em sinal de respeito e luto. E simplesmente tudo ficou bem. Como previsto e planejado, todas as peças se encaixam e permanecem no muro da nossa história. Uma parede de lamentações, derrotas, alegrias e conquistas. A porta fechou-se pela última vez com um estrondo implacável. Mas saímos vitoriosos. A ópera acabou, e a soprano não chorou.

O que dizer desses dois? Juntos embalaram os meus momentos mais brilhantes. Gritamos juntos contra um mundo que não entendíamos nem desejávamos entender. Gritamos uns com os outros. Mas sempre juntos! Assim destruímos e criamos. Criamos o caos, restabelecemos a ordem. Inventamos mil motivos para tudo aquilo. Mas hoje (só hoje) vejo que foi apenas por diversão. Montamos a banda mais fodida de todas. Porque éramos jovens.

Tocamos no frio de São Bernardo do Campo. Dormimos no camarim de Santo Amaro. E rimos quando tudo deu errado em São Caetano. Nenhum santo estava ao nosso lado e era exatamente assim que deveria ser. Agitamos para duzentas pessoas na faculdade. Brilhamos para apenas doze amigos no boteco. Gravamos, fotografamos e filmamos. E demos inesquecíveis risadas. Pegamos nossa fatia. E fizemos por nós. Sempre por nós e pela música! Semper fidelis.

Segui o ritmo do melhor baterista do mundo. Acompanhei os gritos do vocalista mais poderoso do planeta. Meus melhores amigos. Meus irmãos. E com os ouvidos ainda zunindo, nós encerramos. Com as notas graves ainda corroendo o amplificador e a vibração dos pratos ainda perturbando os ouvidos. Com a microfonia anunciando o fim dos tempos. Viramos o século, o milênio.

Mas a rádio emudeceu. Nossa aventura hi-fi chegou ao fim como começou: apenas os três. A bandeira pirata está a meio mastro. A Jolly Roger guardou-se na garagem musical que vocês ajudaram a construir em meu coração. E eu nunca esquecerei do que passamos juntos. A vocês dois, muito obrigado por terem realizado e partilhado meu sonho. Eu nunca vou me esquecer dos sorrisos incontidos quando a música começava. Vocês são os melhores e mais legítimos músicos que eu já conheci. Meus amigos, meus irmãos, meus heróis...


"Amigos, foi um prazer dividir essa modesta vida com vocês. São seus sorrisos que eu levo comigo." - Rémy Girard, As Invasões Bárbaras