Aceitar

E quem foi que disse que as noites são sempre solitárias quando se está sozinho? Existe um milhão de formas de se sentir sozinho acompanhado. Eu estive lá e falo com propriedade. Mas ainda me parece que a forma mais cruel de morrer é ser achado serenamente sentado num banco de praça na tarde fria de um domingo. No lugar da família, apenas algumas dezenas de curiosos que esquecerão suas feições em pouco minutos. Ele pode ter passado uma vida ali, ainda assim, nós sequer lembraríamos seu nome.

Mas se eu nunca me senti apto a julgar a vida de ninguém, quem caralhos sou pra tentar entender a morte de alguém? É que em algum momento entre os 20 e os 30 anos me pareceu que eu estava mais próximo do colegial do que da vida adulta. E isso eu consegui explicar facilmente. O passado é concreto, cicatrizado ou não. E seja aqui, ou do outro lado do mundo, ele nem sempre ele assusta. O amanhã ainda é ilusão. E, se ele chegar, resta pouco a fazer além de abaixar a cabeça e aceitar. Aceitar.