Fim de tarde de domingo
Então é assim que se sente um fim de tarde de domingo? Eu tinha prometido que só ficaria sentado naquele parque, olhando aquelas árvores, enquanto a luz do Sol ainda iluminasse suas copas. Ainda estava calor quando coloquei isso na cabeça. Rivers Cuomo cantava alguma coisa sobre ser parecido com Buddy Holly, e um confuso jogo de futebol completava o cenário. Acho que tive um milhão de pensamentos diferentes em frações interminaveis de segundos imaginários.
"Essa história já acabou mas nenhum dos dois consegue enterrar. Puta garoto feio. Aquele alemão joga pesado. Que porra eu estou pensando? Ah! Sobre ter acabado. Acabou nada, nunca começou. Não começou, nem vai começar. Acho que estou com fome. Faz semanas que não faço duas refeições decentes no dia. Mas também não estou me sentindo mal. Deixa de ser burro. Essa história vai começar porque é pra acontecer. É inevitável. Que ótimo, agora virei uma porra dum sonhador. Vontade de chorar. Chorão do caralho. Frouxo. Será que ela vai ligar hoje? Acho que vai. Foda-se se não ligar, tenho que me virar sozinho."
Eu não tirei os olhos daquelas árvores. Mas quase nem reparei quando a luz amarela foi ficando vermelha, ou como o calor foi virando frio. Ou como meus cigarros acabavam. E meus pensamentos continuavam confusos. Eu me senti preso a um substrato horrível de sensações e sentimentos ilusórios. Ainda assim eu era movido por constatações idiotas e estava vivendo uma realidade que nunca existiu. Ou se existiu, realizou-se apenas na minha cabeça, e apenas eu vivi esse sonho.
E foi assim que aprendi que a a luz do Sol não chega até o fim das copas das árvores, ela simplesmente se apaga antes. Antes mesmo que você perceba que já é noite, o Sol já não existe mais. E mesmo que você procure olhar com atenção, simplesmente é impossível saber exatamente quando aquela luz parou de brilhar. E algo me fazia acreditar que ainda havia algo a se viver num fim de tarde de domingo. Mas já era noite, apenas não tinha escurecido ainda.
<< Home