Paixão, amor e vida
Outro dia eu ouvi a melhor definição sobre estar apaixonado. "É quando você não consegue ingerir nada mais calórico do que fumaça de cigarro". Ela não podia estar mais certa. Quando ouvi essa frase me deu vontade de conhecer aquela moça só pra poder concordar publicamente. Apertar-lhe as mãos e dizer que ela estava certa. Ela disse isso para uma amiga, e me parece bem capaz que não tenha nem notado que eu também estivesse no elevador, ouvindo aquela conversa.
O bom humor e felicidade aparente, estampados em seu rosto, mostravam, porém, que ela não fazia idéia do que estava falando. Foram apenas 12 andares num elevador expresso, mas pareceu uma eternidade. Eu precisava ter feito algo a respeito. Ou ter concordado e gritar pra todo mundo tomar cuidado com isso. Ou no mínimo explicar que isso é uma definição muito simplista de tudo. Nicholas insiste que paixão tem a ver com algo nas entranhas. Passa longe do coração, da cabeça ou mesmo da virilha. Ele também está certo. Talvez ele a moça do elevador devessem se conhecer.
Pra mim apaixonar-se está diretamente ligado a prioridades e memória. As prioridades mudam, das mais simples às mais complexas. E você simplesmente perde a memória. Olho para os meus braços e já não sei o que aquelas cicatrizes significam. Que história cada uma delas guarda. Mas isso também não importa agora. Elas não são prioridades. Não digo que alguém vai esquecer o nome da própria mãe. Acho que ninguém (minimamente saudável) esquece esse tipo de coisa. Mas eu bem que me vejo esquecendo qual ônibus me leva pra casa.
E assim dá pra sacar que paixão e amor tem tudo a ver com vida, mas nada a ver com saúde. Em 27 anos, absolutamente tudo que me fez sentir vivo foi exatamente o que mais me afastou da vida. As melhores comidas vão entupir meu coração. As melhores músicas vão destruir meus ouvidos. E o puro amor só vai estar plenamente no ar quando o féretro me levar a uma cova rasa.
Ou não...
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