Always remember: Elvis is dead, gravity kills and happiness sucks!

quinta-feira, junho 02, 2005

Se fosse só um sonho

Hoje eu sonhei com o futuro. Não foi um sonho comum no qual a gente enxerga uma situação que nunca aconteceu. Não. Se fosse só isso, seria apenas um sonho. Mas o meu foi sobre o futuro, e quem eu seria.

Não lembro das situações, mas lembro dos sentimentos e eu me sentia perdido, totalmente perdido. Como se estivesse preso numa máquina do tempo que me deixaria sempre do mesmo jeito. Fadado a vagar por aí como um personagem patético de 40 anos de qualquer escritor de terceira classe. Um boçal que não cresceu, e ainda ouve Nirvana. Uma versão futurista de algum hippie que paira por aí esperando Woodstock acontecer.

Era um futuro sem perspectivas. Uma realidade tão cruel que me fez rezar pra que minha personalidade fosse tão medíocre quanto meu futuro. Se isso significaria não enxergar o mar de lama no qual eu estaria atolado, então eu queria ser assim: cego e pretensamente feliz. Que se fodam os problemas reais dos outros. Eu quero saber de resolver os meus. Acima de tudo, "a ignorância é uma benção". É mesmo, Douglas?

Como meus grandes feitos podem ter ficado tão distantes? Não pensei isso no sonho. Pensei depois, quando acordei. Não dá pra considerar um pesadelo. Pesadelo é aquele que faz você ter medo, e acordar assustado. Esse não me deu medo, apenas me fez acordar preocupado. Como meus grandes feitos podem ter ficado tão distantes? Como é possível perder a base de tudo em segundos?

Outro dia eu soube que pintaram uma suástica no Monumento ao Holocausto na Alemanha. Não pegaram o grafiteiro, mas algo me diz que a intervenção não foi obra de um grande líder da ideologia neonazista. Pra mim foi um pirralho de 13 anos que não sabe que caralhos significa aquela cruz. E isso me fez acreditar que no mínimo esse garoto tem senso de humor. Mas alguém pode avisá-lo que sua vida acabou? Seu momento mais brilhante e divertido ficou pra trás. Então, mate-se e tente gritar "Deutschland Über Alles", e quem sabe você conseguirá um segundo grande feito.

Começo a invejar quem viveu na idade média. Com uma expectativa de vida de 30 anos, as pessoas não eram obrigadas a vagar décadas afundando-se ainda mais no mar de mediocridade que me espera. Eu não acredito que alguém com menos de dez anos - ainda mais morando num feudo - tenha conseguido alcançar seu momento máximo e então se viu obrigado a viver mais duas décadas sem nada pra fazer.

Mas eu vou seguir em frente não é? É isso que pessoas fazem. Tomam na cabeça e seguem em frente. É como um cara sofrendo de depressão que simplesmente não sabe se seria boa idéia ler a biografia de um suicida. O herói nunca morre no final? Ou o final sem o herói não importa? É a mesma coisa com o cara que se mata. Ele perde o final do filme, ou o rolo acaba quando os miolos dele começam a decorar a parede?

Aquele velho, Red, estava certo sim: esperança é algo muito perigoso. Mas foi assim que eu fui feito. Quando eu morrer (seja no fim do filme ou não) vou fazer essa sugestão a Deus: mais dignidade e menos esperança. Falo com a falta de propriedade de quem viveu pouco pra saber, mas muito pra ignorar. Às vezes, estar vivo é uma merda. Mas eu vou seguir em frente não é? Cantando como o Marcelo: "Nada de chá, nada de café, eu quero é um gole de amor e esperança". Mas eu trocaria por uma pitada de dignidade.