Always remember: Elvis is dead, gravity kills and happiness sucks!

sexta-feira, agosto 04, 2006

Falling Away From Me

Sabe qual foi a última vez que ela viu a luz do Sol? Há 3 anos, dois meses e 17 dias. Ela estava tão perdida quanto as luas de Saturno. Olhava as horas e já não sabia se estava em Birmingham ou Tel Aviv. Eu fecho os olhos e vejo flashes monocromáticos. Ela fecha os olhos e vê suas pálpebras apenas. Queria estar em Londres, mas sentia-se na fronteira uruguaia.

Já nem sei se devo escrever na segunda ou na terceira pessoa. Mas essas noites têm sido bem promissoras. Jonathan Davis sussurrava algo sobre morrer e desfazer-se pelo chão. O som mais agradável que pôde ouvir foi o chacoalhar de vodca na garrafa. Combina perfeitamente com o som do cigarro queimando. O estalar da brasa no tabaco úmido. Gostava especialmente do cheiro de fumo em suas mãos. A voz voltou a falar em morte.

"Abram as portas. Vem aí a companhia solitária da depressão." Um sorriso maldoso esboçou-se em sua boca e pensou seriamente em consultar seu saldo bancário. Queria investir até o último centavo e encher a cidade com mensagens de desordem e caos em tantos outdoors quanto conseguisse. E queria ir ao camarote para assistir à degradação plena da última freira virgem que andava por aquelas ruas sujas.

Por um momento torceu para que a fumaça dos cigarros atingisse sua córnea em cheio. Ao menos teria uma desculpa para chorar. Decidiu rapidamente que a partir daquele dia sentiria mais raiva de quem é depressivo do que dos alegres otimistas que percorreram sua quase vida nos últimos anos. A lógica era tão estúpida quanto a maioria de seus pensamentos mais recentes: "Esse pobres diabos reclamam, mas ao menos têm motivo para sentir. Seu choro tem razão de ser, e ainda assim só fazem queixar".

E como quem acende um outro cigarro apenas por hábito, enfiou na cabeça que colocaria fim a tudo aquilo. Ela viu seu reflexo na janela que a protegia da noite e do frio e teve vergonha. Viu que viver havia tornado-se apenas uma forma egoísta de exercitar sua raiva. Como alguém que escreve sem ter uma mensagem a passar. Como o escritor que apenas treina as regras da gramática, linha após linha, ela simplesmente não via sentido naquilo.

Decidiu ir dormir. "Quem sabe amanhã eu consiga ver o Sol." Uma lágrima desceu de seu olho e desenhou um rastro molhado em seu rosto. Contornou a boca e pendurou-se em seu queixo. E ao deitar teve apenas medo. Havia acabado de descobrir um novo sentimento, e ao contrário dos filmes, nenhuma trombeta tocou, nenhum sino dobrou. A partir daquela noite tornou-se o que mais odiava: uma garota com esperança.