Always remember: Elvis is dead, gravity kills and happiness sucks!

terça-feira, maio 31, 2005

I really, really need to...

...comprar cordas Ernie Ball 0.10 pro violão
...limpar os trastes da Jackson
...preparar a pauta da entrevista com o Yuka
...organizar minhas finanças
...me concentrar no trabalho
...parar de dormir com o celular na mão
...voltar a comer direito
...fumar menos
...melhorar dessa puta febre
...parar de ouvir "Hold Me" do Weezer

Hora de parafrasear Cobain novamente: What the hell am I trying to say?

Dois cigarros e uma conversa

Tati: Tá olhando o que? Tá pensando em pular?
Eu: Claro que não. De onde você tirou isso?
Tati: Sei lá. Você tá com uma cara esquisita e olhando lá pra baixo há uns 10 minutos.
Eu: Não vou pular. Mas por que todo mundo acha que eu sou suicida?
Tati: Porque você é fascinante...
Eu: Tá. Agora "cut the crap".
Tati: Não sei, talvez porque você consiga ser a pessoa mais doce e cruel ao mesmo tempo.
Eu: Explique.
Tati: Quando você quer, você é cara mais meigo que eu conheço.
Eu: Mas...
Tati: Mas quando você quer você realmente consegue ser cruel.
Eu: E o que isso tem a ver com tendências suicidas?
Tati: Aparentemente nada, mas isso mostra duas características suas.
Eu: Quais?
Tati: Você é passional e imprevisível.
Eu: Humm.
Tati: Ficou bravo?
Eu: Não. Mas não acho que eu seja suicida.
Tati: Tá. Talvez seja exagero. Mas você é extremamente autodestrutivo.
Eu: Sou nada. Eu estou numa fase autodestrutiva apenas.
Tati: Tem uma comunidade no Orkut...
Eu: Nem precisa completar.
Tati: Ainda não entendo o que você tem contra aquilo.
Eu: Tirando o fato de que você não tem uma personalidade e sim um "profile"?
Tati: É.
Eu: Se alguém quer saber se eu fumo que me pergunte.
Tati: Mas lá você também conhece pessoas novas.
Eu: Uau! Que emocionante, não?
Tati: Odeio seu sarcasmo.
Eu: Gente nova. So fucking what?
Tati: É legal conhecer gente nova.
Eu: Ou não.
Tati: Você me conheceu.
Eu: É diferente.
Tati: Por que?
Eu: Porque você forçou a barra pra eu conversar com você.
Tati: Hahahaha. Cara, 10 anos atrás eu ia chorar ao ouvir isso.
Eu: Ainda bem que você cresceu.
Tati: Na verdade eu queria impressionar o pessoal do escritório.
Eu: Não deu muito certo né?
Tati: Deu sim, todo mundo fala de você.
Eu: E o que eles sabem sobre mim?
Tati: Elas... Tô brincando!
Eu: Você mente muito mal. Whatever!
Tati: Sabem tanto quanto eu. Ou seja, nada!
Eu: Meu, eles devem ter uma vida bem chata.
Tati: Por que ficam cuidando da sua?
Eu: É.
Tati: Você fuma?
Eu: Só cigarro.
Tati: Você bebe?
Eu: Só cerveja.
Tati: Você tá apaixonado?
Eu: Não.
Tati: Diria se estivesse?
Eu: Também não.
Tati: Então como vou acreditar em você.
Eu: Não acredite.
Tati: Você ainda quer pular?
Eu: Sinceramente? Quero.
Tati: SÉRIO?
Eu: Tô brincando.
Tati: Cretino.
Eu: É, creio que sim. Vou nessa.
Tati: Vai ficar bem?
Eu: Yep. Or die trying.

segunda-feira, maio 30, 2005

Fim de tarde de domingo

Então é assim que se sente um fim de tarde de domingo? Eu tinha prometido que só ficaria sentado naquele parque, olhando aquelas árvores, enquanto a luz do Sol ainda iluminasse suas copas. Ainda estava calor quando coloquei isso na cabeça. Rivers Cuomo cantava alguma coisa sobre ser parecido com Buddy Holly, e um confuso jogo de futebol completava o cenário. Acho que tive um milhão de pensamentos diferentes em frações interminaveis de segundos imaginários.

"Essa história já acabou mas nenhum dos dois consegue enterrar. Puta garoto feio. Aquele alemão joga pesado. Que porra eu estou pensando? Ah! Sobre ter acabado. Acabou nada, nunca começou. Não começou, nem vai começar. Acho que estou com fome. Faz semanas que não faço duas refeições decentes no dia. Mas também não estou me sentindo mal. Deixa de ser burro. Essa história vai começar porque é pra acontecer. É inevitável. Que ótimo, agora virei uma porra dum sonhador. Vontade de chorar. Chorão do caralho. Frouxo. Será que ela vai ligar hoje? Acho que vai. Foda-se se não ligar, tenho que me virar sozinho."

Eu não tirei os olhos daquelas árvores. Mas quase nem reparei quando a luz amarela foi ficando vermelha, ou como o calor foi virando frio. Ou como meus cigarros acabavam. E meus pensamentos continuavam confusos. Eu me senti preso a um substrato horrível de sensações e sentimentos ilusórios. Ainda assim eu era movido por constatações idiotas e estava vivendo uma realidade que nunca existiu. Ou se existiu, realizou-se apenas na minha cabeça, e apenas eu vivi esse sonho.

E foi assim que aprendi que a a luz do Sol não chega até o fim das copas das árvores, ela simplesmente se apaga antes. Antes mesmo que você perceba que já é noite, o Sol já não existe mais. E mesmo que você procure olhar com atenção, simplesmente é impossível saber exatamente quando aquela luz parou de brilhar. E algo me fazia acreditar que ainda havia algo a se viver num fim de tarde de domingo. Mas já era noite, apenas não tinha escurecido ainda.

sexta-feira, maio 20, 2005

Does he ever get the girl?

Aquela madrugada tinha um sabor estranho para ele. Já havia sobrevivido a um milhão delas, mas aquela em especial parecia inofensiva. Não tinha medo dos sentimentos, e ele sustentava um estranho sorriso o tempo todo. Qualquer um que o tivesse visto perceberia um brilho diferente em seu olhar.

Ele vagava pelos andares do prédio sob o pretexto de encontrar o ângulo perfeito, a altura ideal, a luminosidade certa. Tudo para registrar a foto definitiva. Mas por mais que tentasse se concentrar, os eventos da noite anterior sempre roubavam o precioso espaço de seu pensamento, e novamente ele se via divagando sobre ela.

Desceu para um cigarro. O caminho que ele fez inúmeras vezes pensando nela pareceu estranhamente curto. Era como se desse passos mais longos. Como se isso fosse acelerar os ponteiros do relógio que ainda insistiam em marcar três horas da manhã. Enquanto fumava, achou graça de como estava se sentindo. "O pretenso pessimista está feliz. Vê se pode", murmurou.

De volta ao trabalho ele ainda tentou fazer mais algumas fotos. "Ela gostaria de ver essa aqui", pensou ao analisar o pouco que havia produzido. Sentou-se no chão frio e empoeirado do andar escuro e ficou um longo tempo observando o paisagem estática da janela. Foi só então que começou a entender o significado da noite anterior.

Levantou-se e foi para casa ouvindo os violinos do Suicide Machines tocando a melodia de "Rose Garden". Finalmente saberia o que responder quando Chris Carrabba lhe perguntasse: "does he ever get the girl?". Nunca sentira-se tão completo, e pela primeira vez em sua vida ele não teve medo da madrugada. Sabia que nunca mais se sentiria sozinho novamente.

quinta-feira, maio 12, 2005

Crônica urbana

A tragédia parecia ter atingido esse sujeito um milhão de vezes, mas nunca de uma forma tão terrível. Ele ainda se sentia confuso com tudo aquilo. Sentia-se mal por não conseguir demonstrar que realmente estava mal. Aproveitou que ninguém guardava aquela porta e resolveu arrombar. Os trinta e seis andares de escadaria custaram-lhe algumas pausas, quatro cigarros e dores nas pernas. A porta que levava ao terraço estava trancada com um cadeado. Ele teve bem mais trabalho para arrombá-la. Nem se preocupou com o estrondo que o cadeado fez quando estourou.

Fazia dias que estava com a mesma calça e sentiu um certo remorso por ver que seus cigarros estavam acabando. Sentou-se bem no centro do heliponto e acendeu mais um. Pensou em atrasar seus planos. Que mal teria em esperar o maço acabar para fazer o que tinha que fazer? O espigão de concreto e granito na Marginal Pinheiros dava uma visão privilegiada da cidade. Observou os carros passando pela pista expressa em alta velocidade por mais de uma hora. Foi quando acordou do estado catatônico e percebeu que chovia.

Já estava em seu terceiro cigarro desde que chegara ao terraço, e ainda não pensava em terminar aquilo. Passou a mão pelo bolso e sentiu a Taurus 9 mm que furtou do pai de um amigo. Observou toda aquela situação e por um momento teve certeza de ser apenas uma crônica urbana nas mãos de algum escritor incauto. O cigarro molhado pela chuva deixava um gosto estranho na boca. Debruçou-se e olhou para baixo. Quanto tempo alguém leva para chegar lá em baixo? Começou a rir da pergunta que se fez.

Verificou novamente o maço: ainda restavam quatro. "Só mais um", prometeu a si mesmo. Acendeu o cigarro e arremessou o isqueiro para longe. Demorou muito tempo para ouvir o estouro, trinta e seis andares abaixo. Em seguida xingou-se. E se tivesse vontade de fumar mais um antes de ir? Iria acender com o que? Ainda sentia-se apenas um personagem de uma crônica urbana, repleta de sensações verdadeiras em situações inverídicas.

Não teve vontade nem de terminar seu último cigarro. "Tá na hora!", pensou. Puxou a 9 milímetros e observou-a por um tempo. Em seguida caminhou para a porta que horas atrás havia arrombado e entrou. Deixou para trás a arma, um cigarro ainda aceso e uma mistura confusa de sentimentos horríveis. A tragédia parecia ter atingido esse sujeito um milhão de vezes, mas ele só conseguia pensar nos trinta e seis lances de escada que teria pela frente.

quarta-feira, maio 11, 2005

O primeiro dos meus últimos dias

Preciso começar a seguir meus próprios conselhos. Sou o tipo de pessoa ótima pra dar um tapa na cara de alguém com uma pergunta. Adoro explorar os demônios escondidos dos meus amigos. Preciso começar a explorar os meus. O advogado do diabo perdeu seu primeiro caso. E agora chego a pensar se alguma vez eu venci uma causa.

O céu está tão cinza. Apesar de fazer séculos que não ouço Nine Inch Nails, não consigo deixar de ouvir o Trent Reznor gritando no meu ouvido: "This is the first day, of your last days". Que tipo de doente mental adota Trent Reznor como consciência?

É ridiculo admitir isso, mas a televisão está me fazendo mal. Especialmente comerciais de margarina. Por que sempre é tudo perfeito em comerciais de margarina? Eu odeio margarina. Talvez o Reznor-Falante tenha feito minha máscara cair. Talvez eu só queira ser feliz como num comercial de margarina. Talvez daqui um tempo eu adore margarina.

Acho que a vida é mais fácil pra quem acredita em Deus. Existe sempre alguém pra culpar. Se algo não deu certo foi porque Ele não quis. Ou Ele simplesmente tem outros planos pra você. Eu queria acreditar em Deus também. Porque eu sei como ser feliz, mas nunca depende só de mim. Nunca depende só de uma pessoa. Hey, Deus, isso seria fácil demais né, seu Filho da Puta?

E mesmo assim esse maldito Reznor-Falante continua na minha orelha, me lembrando que hoje é o primeiro dos meus últimos dias.

terça-feira, maio 10, 2005

Curiosos sonhos de verão

Sonhos de verão são curiosos. Era janeiro de 1992 e nós estávamos no Guarujá. Eu tinha 13 anos e só queria saber de futebol. Era uma festa todo dia: meu irmão mais velho já tinha carta de motorista e levava a gente pra cima e pra baixo de carro.

O programa mais comum era encontrar o Otto e João Paulo em Pitangueiras pra jogar futebol ou pebolim. O JP era um tremendo palmeirense que estudava com meu irmão do meio. Especialmente nesse verão, o hobby dele era encher nosso saco com a nova contratação do Verdão: Sorato, atacante 23 anos, vindo diretamente do Vasco.

Na quadra do prédio ele estava insuportável. Toda jogada que fazia ele gritava "Soraaaaaaaato". Driblava o poste e "Soraaaaato". Tropeçava na bola e "Soraaaaato". Defendia um chute (a essa altura eram chutes bastante cruéis visando acertar o goleiro, de preferência no saco ou na cara) e "Soraaaaato".

Lembro de ter passado dias de saco cheio com aquele maldito palmeirense que nunca tinha visto o time dele ganhar um título. Enquanto eu tinha acabado de comemorar os títulos de Campeão Brasileiro e Paulista com o São Paulo.

Quando chovia e nos mudávamos para o salão de jogos, novamente o JP vinha com aquela história de "Soraaaaato". A esperança do novo atacante realmente mexeu com o garoto. Ele tinha certeza que o Verdão saíria da fila com a contratação do "craque".

Dias depois seria a estréia do jogador no Palmeiras. Eu realmente não lembro quando, onde nem com quem o Verdão jogou. Mas lembro do JP de mãos suadas torcendo como se fosse final. Lembro da jogada pela direita. Lembro do cruzamento pousar no pé direito de Sorato. Lembro do petardo entrar à meia altura no gol. Indefensável, inegável e implacável. Gol de Sorato.

João Paulo nem gritou. Apenas olhava para a tela da TV e eu juro que vi uma lágrima nascer nos olhos dele. Não chegou a descer pelo rosto. Mas ela estava lá. Sorato corria pelo gramado, festejava, gritava. Era uma felicidade tão plena, tão pura, que nem um sãopaulino teria coragem de censurar.

De repente, no auge da comemoração um jogador do Palmeiras pulou em Sorato. Acertou o ombro do atacante e os dois foram ao chão. Ele levantou, Sorato não. A expressão da alegria deu lugar à dor. Vieram o médico, o massagista e os carregadores da maca. Sinal para o banco de reservas: Sorato está fora.

Nas horas seguintes soubemos que a contusão era séria: uma fratura. Não lembro quanto tempo levou para que ele voltasse a jogar e francamente não me lembro mais nem se ele ainda voltou a jogar naquele campeonato. Mas lembro da cara do JP quando ele se machucou. Na hora achei até engraçado ver como aquele garoto que sempre jogava bola comigo estava desolado ao ver seu Golias caído.

O verão se foi. E naquele ano eu ainda vi meu time ser campeão da Libertadores, do Mundial em Tóqio e do Paulista (em cima do Palmeiras). Eu quase repeti a 8ª série. Senti pela primeira vez meu coração disparar por uma garota. Descobri que seria roqueiro pra sempre. Concluí que meus pais não são perfeitos nem super-heróis. E soube que adorava humor negro.

Mas mesmo assim, nunca esqueci dos olhos do JP quando Sorato marcou aquele gol. 1992 ainda me ensinou que sonhos de verão são curiosos, mas são apenas sonhos.

segunda-feira, maio 09, 2005

No acostamento

Antes de tudo, há de se explicar! Ponderar um conceito tão particular quanto "A felicidade é um saco", logo transformaria qualquer indivíduo que levantasse essa bandeira num tremendo pessimista. É apenas retórica desnecessária tentar explicar que não sou um sádico que ri da própria desgraça. Defender que "A felicidade é um saco" nada mais é do que admitir publicamente que qualquer ser humano só aprende, cresce e se fortalece ao vencer barreiras e dificuldades.

É de fato impossível crer que alguém encerrado em uma realidade perfeita e impecável seja realmente feliz. Se a alegria é cotdiana, que valor alguém dará a ela? Recentemente (re)encontrei alguém que me fez perder o medo de enfrentar desafios. Mas minha ousadia e despredimento ainda não são plenos. Apesar de me ver destemido frente a qualquer obstáculo, ainda cultivo um pavor imensurável de perder.

Se passei a vida andando no acostamento, já é hora de passar para a pista expressa. Só espero não estar na contra-mão. Nesse caso, o único alento seria topar com uma jamanta desgovernada que traria a certeza de morte rápida e indolor. Mas é realmente possível perder o chão sem sentir dor?