Uma das histórias mais divertidas do rock que eu já ouvi é sobre a briga entre o Lynyrd Skynyrd e Neil Young. Tudo começou quando Young, um canadense meio certinho, compôs Alabama. Tá bom, é só prestar atenção na letra que dá pra sacar que ela generaliza demais algumas coisas. Mas é um puta ataque ao racismo que tem no sul do EUA.
Aí, nessa, é que o Lynyrd Skynyrd entrou na treta. Ronnie Van Zant, que era um porra louca de marca maior, tomou as dores de toda a nação sulista e escreveu Sweet Home Alabama. Diga-se de passagem também é uma senhora canção.
Aí a treta ficou mais franca. O canadense vesguinho ficou puto com Van Zant e resolveu dar a tréplica com Walk On. Ele jura que a música não tinha nada a ver com Van Zant, e que ela é uma "homenagem" a seus ex-amigos Crosby, Stills e Nash. Sei, sei.
Mas essa merda toda só ficou engraçada porque na real o Van Zant e o Young eram amigos pessoais, e todo mundo caiu na história da treta entre eles. Depois dum tempo o Van Zant assumiu que adorava Neil Young, e passou a usar uma camisa dele pra cima e pra baixo. Dizem as más (ou sinceras) línguas que ela até fedia de tanto que ele usava.
E tudo correu bem até 20 de outubro de 1977 . Foi nesse dia que o bimotor alugado pelo Lynyrd Skynyrd caiu. Morreram Van Zant, três backing vocals e dois roadies da banda. O líder de uma banda que está no auge morre tragicamente. Você já viu esse filme? Eu também. O que aconteceu? Isso mesmo, comoção geral.
Homenagens pipocaram pra tudo que é lado. Nessa, sobrou até pro Neil Young. O cara voltou a tocar Alabama em seus shows (é, aquela que deu início à toda a treta). Só que, no refrão, ele cantava do mesmo jeito do Lynyrd Skynyrd e ficava assim "Sweet home Alabama". Ele até usou aquela clássica camiseta do Skynyrd que imitava o rótulo duma garrafa de Jack Daniels. Pra ninguém achar que eu stou mentindo o Jim Jamursch registrou isso naquele Crazy Horse.
Não lembro quem foi que disse: "Se você tem a verdade e a versão, então publique a versão". Ok, a frase é nojenta, mas o ser humano tem essa tendência de querer sempre a fofoca antes da verdade. Ou então existem alguns exemplos mais desprezíveis ainda que preferem transformar a fofoca em verdade. E assim, o que era verdade ou vira mentira, ou simplesmente fica em segundo plano.
Tá, mas esse texto não é sobre consciência humana ou certo ou errado. Enfim, o fato é que niguém se lembrou (ou não quis se lembrar) que Young e Van Zant eram amigos. E o que ficou foi a "treta" entre os dois.
Se a história tivesse morrido aí tudo bem. Mas o problema é que muitos anos disso surgiu um boato fortíssimo que até hoje ninguém conseguiu desmentir óu esclarecer. Uns dois anos depois da morte de Van Zant, uns fãs do Young foram até o túmulo do cara e tentaram desenterrar o caixão. É que falava-se que Van Zant foi enterrado com a camiseta do Neil Young. Mas isso ninguém sabe com certeza, já que o caixão dele estava lacrado. O que é totalmente coerente, afinal ninguém quer se contemplar um defunto que morreu na queda dum avião.
Mas o que os fãs do cemitério (aparentemente) não sabiam é que Van Zant poderia muito bem ter sido enterrado com a camiseta do Young por três motivos: ele gostava do canadense, era amigo do canadense e não tirava a maldita camiseta. Mas eles acharam que tinha sido uma última provocação contra Young. E lá foram eles tentar desentarrar Van Zant pra arrancar a tal camiseta do Young.
Se a história do cemitério é verdade ou não nunca saberemos. Mas é engraçado pensar que isso realmente ocorreu.
O Lynyrd Skynyrd não existe mais. No Grammy deste ano os sobreviventes receberam Tim McGraw no palco e tocaram uma versão nova de Sweet Home Alabama. Ah, e Neil Young estava na platéia, já que ele tocou no jantar especial do Grammy que rolou na noite a anterior e que homenageou Carlos Santana.
Esse ano ainda, Neil Young afastou-se da música pra operar um aneurisma no cérebro. Ele volta aos palcos dia 15 de agosto, em Nashville.